O Gosto do Não-Dito

Ele fala, mas não diz. Sabe que a fome se alimenta do que falta.

As palavras vêm em doses pequenas, escorrendo como um vinho que se toma devagar, sentindo antes o aroma, testando antes a temperatura. Um elogio solto, um detalhe observado com precisão cirúrgica—"esse jeito de morder o lábio antes de rir". Um olhar que não vejo, mas sinto.

Eu deixo. Respondo menos do que deveria, mais do que o necessário. Mantenho o jogo no fio da navalha. Não entrego. Deixo que ele imagine.

Ele insiste, contorna, aproxima-se sem tocar. Descreve o que faria se pudesse. Fala em voz baixa, mesmo sem som. Diz que sou mistério, que meu silêncio tem gosto, que minhas entrelinhas são território onde ele se perde.

Eu escuto. E sorrio.

Porque há desejos que não precisam de pele. Só da ideia. Da ausência que queima mais do que o toque.

E ele arde.