... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

Textos


Ela nunca foi brisa, sempre foi maré. Invadia, arrastava, transformava. Quem cruzava seu caminho sentia a força do seu olhar, um convite silencioso para enxergar além, para questionar o óbvio, para sair do conforto morno do cotidiano. Ela era tempestade e calmaria ao mesmo tempo, uma dança entre o caos e a clareza.

 

Nelson a sentiu assim. Nos primeiros encontros, foi arrebatado por essa energia rara, essa luz que não apenas iluminava, mas também queimava. Ele nunca havia sido visto daquela forma antes—com olhos que não julgavam, mas despertavam. Ao lado dela, descobriu-se mais do que acreditava ser, como se cada palavra trocada fosse um martelinho de ouro quebrando as limitações que a vida lhe impusera. Mas nem todo mundo sabe o que fazer com essa liberdade.

 

Ele partiu, como outros já haviam partido. Não porque o encanto se desfez, mas porque sustentar aquela intensidade era uma luta constante. Nem todos querem dançar com o oceano, nem todos sabem navegar a correnteza. E ela sabia. Ah, ela sempre soube.

 

Cada despedida trazia um gosto conhecido, um salgado familiar que não vinha do mar, mas da repetição inevitável: as pessoas se encantavam, mas poucas ficavam. Talvez porque fosse mais fácil admirar a maré do que aprender a nadar com ela.

 

Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 04/03/2025
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