... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

Textos

O Amor Que Nunca Foi

 

Existe uma dor que não grita, mas pesa. Um amor que não se apaga, mas também nunca se acende por completo. Ele vive entre o que poderia ter sido e o que jamais será, suspenso no espaço das impossibilidades. Amar alguém que nunca será seu é como segurar o vento: você sente, mas nunca o possui.

 

Certa vez, ouvi uma amiga desabafar. Seus olhos carregavam tristeza, mas também um brilho intenso, como se a dor que sentisse fosse maior do que ela mesma. Naquele momento, sem que ela soubesse, algo em mim também se revirou. Pensei nos meus próprios amores, nos sentimentos que ficaram presos no tempo, e percebi que a intensidade do que não se vive às vezes é maior do que a do que se consome.

 

Kierkegaard dizia que o amor que nunca é possuído permanece eterno. Mas que espécie de eternidade é essa? Parece mais uma explicação do que um presente. Porque o amor não vívido não se desgasta, não se esgota, não se dissolve no tempo – ele fica. E, ao ficar, marca.

 

Há quem diga que esses amores impossíveis nos elevam, nos ensinam sobre o que há de mais puro no sentir. Mas será que o amor precisa ser só sentido? Não deveria ele ser vívido, compartilhado, entregue? O que fazemos com essa emoção que transborda e não encontra destino? Guardamos como um tesouro, ou deixamos que ela nos consuma aos poucos?

 

O amor impossível é uma saudade sem lembrança, um desejo sem caminho. E, ainda assim, ele existe. Não porque queremos, mas porque sentimos. Porque amor, no fim das contas, nunca foi sobre possuir – mas sobre o que permanece dentro de nós.

Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 10/02/2025
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