A Verdade Que Todos Sabiam

No meio da tarde, entre um relatório e outro, a supervisora ​​de nutrição recebeu uma visita inesperada do diretor. Ele entrou com um semblante ensaiado, aquele misto de casualidade e seriedade que os chefes usam quando querem parecer acessíveis.

— Só pra esclarecer… a saída do gerente não foi decisão minha, veio da matriz.

A frase veio como um aviso disfarçado de explicação. A supervisora ​​apenas assentiu, como quem ouve, mas não se convence. O diretor guardou por algum sinal de concordância, um gesto de cumplicidade talvez, mas tudo o que recebeu foi um silêncio polido.

Ele saiu, satisfeito por ter cumprido sua missão de espalhar a narrativa que mais lhe convinha. O problema era que todos já sabiam a verdade.

Nos corredores, nos intervalos rápidos do café e nas trocas de mensagens discretas, a história real corria sem necessidade de alarme. O gerente não havia sido desligado por decisão da matriz, e sim porque, desde sempre, o diretor queria vê-lo fora de Dali. Foi um desgaste construído dia após dia, reunião após reunião, conflito após conflito. Um trabalho minucioso, onde a falta de apoio, a escuta seletiva e a liderança opressora fizeram o que um pedido formal não poderia fazer: levar ao esgotamento.

Quando o momento chegou, a decisão foi apenas uma formalidade. Mas assumir isso seria assumir responsabilidade, e isso nunca esteve nos planos do diretor.

A equipe sabia. Sabia da mentira, sabia dos bastidores e sabia que, com o tempo, aquela história se repetiria com outro nome. Porque o problema nunca foi a matriz. O problema nunca foi só o gerente. O problema sempre esteve ali, caminhando pelos corredores, justificando decisões que não eram suas, moldando verdades convenientes.

E assim, o silêncio se manteve. Não por falta de entendimento, mas porque algumas verdades não precisam ser ditas. Elas apenas existem, pairando no ar, esperando o momento certo para, enfim, encontrarem a sua voz.