![]() O Ciclo da Carênciae a Ilusão da Plenitude no Outro(texto baseado em uma conversa com uma grande amiga sobre relacionamentos)
A vida nos ensina que somos seres sociais, moldados pelo afeto, pelo toque e pelo olhar que nos acolhe. Desde o nascimento, aprendemos que existir também significa ser visto, amado e desejado. E assim, muitas vezes, buscamos no outro aquilo que acreditamos nos faltar. Mas será que a presença de alguém realmente nos completa? Ou apenas preenche, momentaneamente, os espaços vazios que temos medo de encarar sozinhos? A necessidade de ter alguém ao lado — seja para conversar, sentir o calor de um toque ou receber uma simples palavra de conforto — não é um erro, tampouco uma fraqueza. É humano. No entanto, quando essa necessidade se transforma em uma ansiedade emocional, impedindo-nos de navegar sozinhos pelo mar da vida, ela se torna uma prisão invisível.
Nietzsche nos alerta sobre a eterna repetição dos ciclos. Muitas vezes, encontramos padrões que, mesmo dolorosos, são familiares. Buscamos, sem perceber, relações que recriam velhas dinâmicas, porque a mente, por mais contraditório que pareça, sente segurança naquilo que já conhece. Se um padrão se repete, não é porque o destino é cruel, mas porque, dentro de nós, há um roteiro ainda não ressignificado. A pergunta que fica é: estamos realmente escolhendo ou apenas reagindo ao que já foi programado em nós?
A vulnerabilidade de precisar do outro pode nos cegar para a realidade de que a única presença indispensável em nossa vida é a nossa própria. Antes de sermos companheiros de alguém, precisamos ser companheiros de nós mesmos. O problema não está em querer um relacionamento, mas em usá-lo como um escudo contra a solidão. Porque, no fundo, o que realmente tememos não é a ausência do outro, mas a presença de nós mesmos sem distrações. Carl Jung dizia que aquilo que negamos em nós acaba nos controlando. Se não olharmos para nossas carências, dores e vazios, elas tomarão as rédeas de nossas escolhas. E, muitas vezes, essas escolhas nos levam de volta aos mesmos lugares, às mesmas histórias, às mesmas frustrações. O padrão se repete, não porque a vida seja injusta, mas porque, dentro de nós, ainda há algo a ser compreendido.
O caminho para quebrar esse ciclo não está na fuga, na busca desesperada por alguém que alivie a inquietação do silêncio interno. Está na coragem de se olhar no espelho sem medo. Está na capacidade de transformar a solidão em autoconhecimento, em prazer pela própria companhia. Está na consciência de que não há nada de errado em querer amor, mas há muito perigo em aceitar qualquer amor apenas para não sentir sua falta. No fim, a questão não é estar com alguém ou estar só. A verdadeira questão é: você está escolhendo ou apenas repetindo? Você está amando ou apenas se preenchendo? Você está se permitindo ser feliz ou apenas fugindo do medo de estar consigo mesmo?
A resposta para essa pergunta não está no outro. Está dentro de você. Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 06/02/2025
Alterado em 06/02/2025 Copyright © 2025. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |