A Roupa das Palavras

Outro dia, enquanto observava uma conversa qualquer, me ocorreu um pensamento estranho: as palavras são roupas. A gente se veste delas sem nem perceber. Escolhe frases como quem escolhe uma camisa. Algumas pessoas preferem palavras simples, básicas, como uma camiseta confortável. Outras se enfeitam de termos sofisticados, palavras de seda, raras e caras. Há quem se embole num vocabulário desnecessário, como quem veste um casaco grosso num dia quente.

E tem os que vestem palavras de outros. Pegam emprestado um discurso pronto, uma fala copiada, como quem usa um paletó que não lhe serve direito. Ficam apertados, deslocados. Mas insistem. Talvez porque pensem que é elegante, talvez porque a roupa do outro pareça mais bonita que a sua.

Há também aqueles que não trocam de roupa nunca. Usam sempre as mesmas palavras, gastas pelo tempo, desbotadas pelo uso. Ouvimos e já sabemos o que vem. Um vocabulário de gaveta, repetido à exaustão. Mas o pior, eu acho, são os que vestem palavras desalinhadas, tortas, mal combinadas. Pessoas que falam, falam, e no fim das contas, não dizem nada.

Então eu me pergunto: e se a gente tirasse tudo isso? E se nos despíssemos das palavras? Se não tivéssemos mais frases para nos cobrir, como nos apresentaríamos ao mundo? O que sobraria de nós quando não houvesse mais discurso, mais justificativas, mais floreios?

Talvez o silêncio fosse nossa roupa mais sincera. Ou talvez, sem as palavras, seríamos apenas nós mesmos, enfim nus, enfim verdadeiros.