... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

Textos


A Arte de Ir Embora

 

No começo, ela esperou. Esperou por uma mensagem que não veio, por uma ligação que não aconteceu, por uma explicação que nunca chegou. Esperou porque era isso que fazia sentido: insistir, tentar, compreender.

 

Mas a ausência dele era cada vez mais presente. Primeiro, eram minutos sem resposta, depois horas, depois dias. Pequenos silêncios foram virando barreiras, e cada tentativa dela de se aproximar se chocava contra um muro invisível. Ele sempre estava "ocupado", "cansado", "sem paciência".

 

Ela chorou. Chorou em silêncio, na companhia de músicas que falavam por ela, no meio da noite quando o travesseiro era o único confidente. Mas, ao contrário do que ele imaginava, o choro não durou para sempre.

 

A dor, com o tempo, se transformou em aprendizado. Primeiro, percebeu que conseguia ir ao cinema sozinha. Depois, que gostava de almoçar sem precisar esperar por ninguém. Aprendeu a gostar do próprio silêncio, a desfrutar da própria companhia, a se bastar.

 

Ela já não verificava o celular a cada cinco minutos, já não tentava entender os motivos dele. Parou de criar desculpas em nome de um amor que só existia de um lado. Quando finalmente percebeu que não precisava dele, não houve drama, nem cena de despedida. Apenas um suspiro de alívio.

 

E então, sem precisar anunciar, ela se foi. Não como quem foge, mas como quem desperta. Como quem entende, de uma vez por todas, que amor nunca deveria ser sobre esperar eternamente alguém que nunca chega.

 

 

Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 03/02/2025
Copyright © 2025. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.

Tela de Claude Monet
Site do Escritor criado por Recanto das Letras