![]() O Peso da GratidãoA primeira coisa que a gente fala quando recebe algo é: "Não precisava."
Mas quem disse que um presente precisa ser necessário? A gente se confunde, acha que presente é suprimento, que só se dá o que falta. Mas um presente não se dá porque o outro precisa. Dá-se porque se quer dar. E ainda assim, no instante em que estendemos as mãos para receber, um certo desconforto aparece. Como se aceitar algo sem merecimento fosse um crime silencioso.
A gratidão, no entanto, não é um agradecimento murmurado, um sorriso sem jeito ou um obrigado automático. A verdadeira gratidão é transformar o presente recebido em algo bom.
O primeiro presente que recebemos foi a vida. E o que fazemos com ela? Passamos tempo demais apontando o que faltou, o que poderia ter sido diferente, o que gostaríamos que nossos pais tivessem feito melhor. Mas foi deles que veio o que há de mais essencial: a possibilidade. A chance de estar aqui, de falar, de sentir, de errar, de amar. De experimentar o mundo.
A vida é soberana. Mais que qualquer crença, mais que qualquer medo. Porque até mesmo para pensar sobre Deus e sobre o diabo, a gente precisa, primeiro, estar vivo. O oposto da vida não é a morte. O oposto da morte é o nascimento. O oposto da vida é o medo—esse que paralisa, que impede de retribuir, de criar, de devolver ao mundo um pouco daquilo que recebemos.
Talvez o peso desse presente diminua um pouco quando a gente o passa adiante. Um filho, um projeto, um gesto, um legado. Algo que diga: "A vida que me deram, eu não deixei estagnar. Eu fiz dela alguma coisa."
Porque essa é a única forma real de agradecer.
Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 02/02/2025
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