![]() O Silêncio que Fala AltoA sala estava cheia. O CEO, em sua postura imponente, conduzia a reunião com a segurança de quem dita as regras. Naquela manhã, ele apresentava a mais nova iniciativa da empresa: a criação de uma ouvidoria. Um canal direto para ouvir e atender às demandas... do cliente externo.
Os colaboradores se entreolharam. Uns, curiosos. Outros, indiferentes. Mas muitos sentiam um incômodo crescente. Porque, antes mesmo que alguém levantasse a mão para perguntar sobre questões internas, o CEO já antecipava a resposta: “Assuntos internos devem ser tratados exclusivamente pela Gestão de Pessoas.”
A frase soou definitiva. Mas o que veio depois foi um silêncio carregado. Um silêncio daqueles que dizem mais do que mil palavras. Porque todos ali sabiam que a tal Gestão de Pessoas era liderada por alguém profundamente ligado ao próprio CEO. Uma aliança velada, mas evidente, que fazia com que os problemas da empresa fossem tratados com a mesma atenção que se dá a um papel amassado jogado no lixo.
Queixas sobre assédio? Falta de ética? Clima organizacional tóxico? Ficavam sem resposta, sufocados por um sistema que fingia escutar, mas que na verdade operava com ouvidos seletivos.
E assim, a ouvidoria nascia com um propósito claro: ouvir o que vinha de fora e silenciar o que acontecia dentro. Uma empresa de portas abertas para os clientes, mas de janelas fechadas para seus próprios funcionários.
O CEO continuou sua fala, alheio aos olhares pesados que circulavam pela sala. Aquele momento não precisava de palavras – o recado já havia sido entendido.
E, enquanto ele discursava sobre transparência e inovação, o que ressoava nos corações ali presentes era outra certeza: não há ouvidoria eficiente quando a surdez começa no topo. Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 30/01/2025
Alterado em 30/01/2025 Copyright © 2025. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |