![]() EUA e o muro de Trump...Os muros sempre carregaram significados profundos, simbólicos e concretos. Ao longo da história, foram erguidos para proteger, dividir ou, em algumas ocasiões, esconder. Mas o que os muros revelam, na verdade, não é o que mantêm do lado de fora, e sim o que deixam à mostra sobre quem os constrói.
Pensemos no exemplo mais famoso: a Grande Muralha da China. Erguida para defender um império das invasões bárbaras, tornou-se, com o passar dos séculos, um símbolo de resistência e de uma civilização poderosa. Entretanto, ela não impediu que dinastias caíssem, nem que o curso natural da história avançasse. Assim como o Muro de Berlim, outro marco histórico, que buscava dividir ideologias, mas acabou apenas acentuando as desigualdades humanas, até que um dia foi ao chão, não pela força militar, mas pela força da união de um povo.
E agora, há quem sonhe em erguer muros novamente. Não contra exércitos ou ideologias, mas contra pessoas. Um muro para separar o "nós" do "eles", como se a geografia pudesse apagar a realidade da interdependência global. A América, a que se refere apenas aos Estados Unidos, pretende levantar tijolos em sua fronteira, ignorando que a verdadeira América é um continente vasto, pulsante e repleto de histórias que não cabem dentro de seus limites.
Do lado de fora desse muro imaginado, há 7,7 bilhões de pessoas. Pessoas que representam culturas, economias e alternativas. Consumidores, se preferirem um termo mais pragmático. Eles têm opções – trocam seus iPhones por Samsungs e Huaweis em um piscar de olhos. Substituem os jeans Levi's por Zara ou Massimo Dutti. Escolhem carros alemães, japoneses ou sul-coreanos, deixando Fords e Chevrolets para trás. O mundo não depende de um único país, mas um único país que ergue muros pode perder o mundo.
A história sempre nos mostrou que a troca – de bens, ideias, culturas – é o motor do progresso. O Egito antigo prosperou com seu comércio pelo Nilo. A Rota da Seda transformou economias e conectou civilizações distantes. Até mesmo as pirâmides, no Egito, no México, no Peru, falam de um mundo onde a grandiosidade cultural não conhecia barreiras. E hoje, no século XXI, estamos construindo muros?
O que é mais perigoso nesses muros não é a barreira física, mas a desconexão que eles promovem. Um muro que isola é um muro que nos faz esquecer que, por trás de cada compra, de cada troca cultural, há humanidade. Do lado de fora, há um mundo cheio de alternativas: produções cinematográficas que não vêm de Hollywood, hambúrgueres que não vêm do McDonald's, destinos turísticos que não são parques da Disney. Há um mundo pulsante que não parará porque um país ergueu um muro.
O que os muros revelam, afinal, não é sua força, mas a fragilidade de quem os constrói. Porque, ao erguer barreiras contra o "outro", deixa-se de perceber que o "outro" não desaparece – ele se reinventa, encontra caminhos e segue adiante. E quem se fecha entre paredes, mesmo que as mais sólidas, acaba perdendo o horizonte.
Os muros não são feitos para proteger. São monumentos ao medo. E, na história, o medo nunca foi um bom alicerce para construir futuro.
Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 28/01/2025
Alterado em 28/01/2025 Copyright © 2025. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. Comentários
|