![]() O CEO e o seu Cafofo do Podernarrativa com base filosofica de manipulação e controle.
Há um lugar secreto em todos os sistemas, um espaço onde a transparência não entra e a ética parece se dissolver. No Hospital Geral, esse lugar tinha um nome quase irônico, dado pelos trabalhadores: “o cafofo do CEO”. Lá, escondido entre os corredores de um estoque de medicamentos — local onde o acesso deveria ser restrito em nome da segurança e do bom uso público —, o poder revelava sua face mais dissimulada.
O "cafofo" não era apenas um depósito improvisado; era um santuário de contradições. Havia ali enxovais novos, máquinas de costura, equipamentos médicos e até um elevador nunca instalado, prisioneiro de um projeto arquitetônico malfeito. Cada objeto parecia sussurrar uma pergunta desconfortável: Por que estamos aqui? E mais importante: Quem se beneficia de nossa inutilidade?
Aristóteles, em sua Ética a Nicômaco, nos lembra que a virtude está na ação que busca o bem comum. Mas o que acontece quando aqueles encarregados de liderar agem não para o coletivo, mas para consolidar seu poder? O “cafofo” era mais que um lugar físico; era o símbolo de uma gestão que confundia autoridade com controle, e transparência com conveniência.
Os Capatazes do Sistema Em um grupo de mensagens, o eco de uma manipulação planejada ressoava com a tranquilidade de quem acredita que a verdade nunca será descoberta. Um CEO e seus "capatazes", como eram chamados pelos que trabalhavam na base, agiam como mestres de uma engrenagem silenciosa. Suas decisões não vinham de um senso de dever público, mas de uma visão estreita e egoísta, onde a liderança se transforma em domínio.
Nietzsche, em Assim Falou Zaratustra, alerta que “quem combate monstros deve cuidar para não se tornar um.” Mas no ambiente do hospital, o monstro era invisível, escondido não em gestos grandiosos, mas na banalidade das pequenas manipulações. A supervisora recém-contratada — antipática, vazia e dissimulada — parecia ser uma peça-chave nesse jogo. Indicada por laços que nada tinham a ver com competência, ela assumia seu papel com a leveza de quem não carrega o peso da ética.
A Vaidade do Poder Enquanto os trabalhadores olhavam para o hospital como uma extensão de seus esforços e esperanças, o CEO olhava para o "cafofo" como um espelho de seu próprio domínio. O filósofo francês Michel Foucault, em sua análise sobre o poder, descreve como as estruturas hierárquicas se tornam máquinas de controle. O poder não é apenas exercido; ele se infiltra nos espaços, nas decisões e até nos silêncios.
O "cafofo" era isso: o silêncio de enxovais que nunca foram usados, de máquinas que nunca operaram, de promessas que nunca foram cumpridas. Era o testemunho mudo de uma gestão que confundia planejamento com acumulação e controle com eficácia.
O Custo da Manipulação Em um hospital público, cada centavo gasto é um investimento na vida. Cada equipamento parado é uma possibilidade de cura negada. Mas para o CEO, tudo isso parecia secundário. A manipulação, quando bem arquitetada, não precisa de justificativa; ela apenas acontece.
Hannah Arendt, ao falar sobre a banalidade do mal, aponta que o problema do mundo não está em grandes vilões, mas na incapacidade de muitos de pensar eticamente suas ações. No hospital, a negligência com os recursos públicos não era apenas uma falha administrativa; era uma traição ao pacto social que sustenta a saúde pública.
A Reflexão Final No final, a pergunta que fica é: o que fazemos diante do "cafofo do poder"? Enxergamos a repetição histórica das manipulações e voltamos à nossa rotina, ou temos a coragem de desafiar o sistema?
Eclesiastes dizia que “não há nada de novo debaixo do sol”. Mas talvez o novo não esteja no sistema, e sim em nossa capacidade de reagir. Enfrentar a manipulação requer mais que indignação; requer ação, ética e, acima de tudo, a força para transformar a realidade.
Seja no hospital, na política ou na vida, o poder só prospera no silêncio. E talvez seja hora de transformar esse silêncio em voz. Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 22/01/2025
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