![]() “O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há de novo debaixo do sol.” (Eclesiastes 1:9)
Estas palavras, atribuídas ao Rei Salomão, ecoam além de sua origem bíblica, ressoando no âmago das reflexões filosóficas e existenciais de todas as eras. Mais do que uma constatação melancólica, esta declaração é uma lente que desnuda a essência do humano e sua relação com o tempo, o progresso e a criação. O livro de Eclesiastes não busca consolar; ele questiona. Seu autor, chamado de “o Pregador”, desmonta as bases da nossa percepção de propósito e identidade. Em sua análise crua, propõe que nossa busca incessante por novidade e significado está destinada a colidir com a realidade de uma existência cíclica. Tudo é vaidade, afirma ele, não como uma acusação, mas como uma revelação daquilo que teimamos em ignorar: somos parte de uma engrenagem maior, repetitiva e inexorável.
A ilusão da originalidadeNa era contemporânea, repleta de inovações tecnológicas e culturais, abraçamos a ideia de progresso como uma linha ascendente que nos separa do passado. Mas será que realmente criamos algo novo? O conceito de originalidade, tão enaltecido, revela-se frágil sob o escrutínio de Eclesiastes. Tudo o que consideramos inovador é, na verdade, uma reinterpretação de padrões antigos. Jean Baudrillard, em sua teoria sobre a hiper-realidade, sugere que vivemos em um mundo onde as representações se substituem ao real. Redes sociais, inteligência artificial e avanços científicos são apresentados como novas fronteiras, mas reproduzem nossas limitações e preconceitos ancestrais. Criamos ferramentas poderosas, mas seguimos presos ao mesmo ciclo de ambição e destruição.
Progresso ou repetição?A história humana, quando vista de forma ampla, assemelha-se a uma espiral, onde os mesmos dilemas reaparecem em roupagens diferentes. Guerras, disputas de poder e colapsos de impérios ilustram esta repetição. Do colapso de Roma às dinâmicas de controle contemporâneas exercidas por corporações, a essência da luta pelo domínio permanece.
A promessa do progresso técnico, abordada por filósofos como Theodor Adorno e Max Horkheimer, foi questionada em sua obra Dialética do Esclarecimento. Eles apontam que, longe de libertar, o avanço tecnológico muitas vezes nos prende em novas formas de opressão. Cidades modernas, projetadas para conexão, isolam; redes sociais, criadas para aproximar, amplificam divisões. O que aparenta ser novo é frequentemente uma reinvenção do mesmo ciclo de glória e ruína.
Aceitação como libertaçãoA pergunta que se impõe, diante da inevitável repetição, é: podemos nos libertar? O reconhecimento da ausência de originalidade não precisa ser paralisante. Como propôs Friedrich Nietzsche em sua ideia do eterno retorno, encarar a repetição com coragem pode nos oferecer um novo horizonte de autenticidade.
Aceitar que somos parte de algo maior, cíclico e imprevisível, permite que abandonemos as ilusões que nos amarram. Mas isso exige uma força que poucos possuem: a coragem de viver sem o conforto de respostas absolutas.
E você? Está disposto a encarar essa verdade? A abrir mão da ilusão de ser único para encontrar significado no eterno retorno daquilo que já foi? Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 22/01/2025
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