Os Círculos InvisíveisEra como caminhar dentro de um labirinto de espelhos, onde cada reflexo mostrava minha sombra, mas nunca minha presença. No papel, eu era essencial; na prática, um eco abafado em corredores que nunca me escutaram. Eles confiavam em mim o bastante para assinar, validar, concordar, mas nunca para decidir, construir ou moldar. E isso me deixava tonta, rodando em círculos.
Veio Bárbara, trazida pela mão de Salvatori, um velho conhecido das sombras do poder. Eles passaram por mim, como passam os ventos que não pedem licença para bagunçar o que está em ordem. Não demorou para que a dança se repetisse: demandas direto para o CEO, decisões passando pelas minhas mãos apenas como um carimbo, uma formalidade sem vida.
Minha inquietação era um contraste gritante. Sou do tipo que se sente útil agindo, movendo peças, conectando pessoas e resultados. Sempre acreditei que o respeito nascia do impacto positivo que geramos, mas nesse teatro, o respeito era um personagem que nunca subia ao palco.
Não quero aplausos nem simpatia. Nunca quis ser querida. Eu só queria ser ouvida. Mas, ao invés disso, a sensação de braços cruzados me sufocava. Eu estava lá, mas não estava. Era como assistir a um filme em que o protagonista foi apagado do roteiro, deixando apenas a assinatura no final de cada cena.
Penso em respeito, e ele me parece distante, quase utópico. Penso no CEO, com sua postura egocêntrica e manipuladora, e me pergunto quantas outras pessoas ele já apagou do mesmo jeito. Mas a verdade é que nem isso importa mais. Não quero vingança, não quero gritar. Só quero que minha saída, quando acontecer, seja digna.
Ainda assim, há algo que me consola. Tudo tem um motivo, uma linha invisível que costura os momentos difíceis e os transforma em oportunidades. Sei que ano que vem será diferente. Não sei como, mas espero que algo bom aconteça. Algo que me devolva o prazer de agir, de criar, de fazer a diferença.
Por enquanto, fico aqui, ouvindo os ecos dos corredores e sentindo o peso dos papéis que assino. Mas sei que o movimento há de vir. Eu sou feita para agir, e círculos nunca foram o meu destino.
Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 20/12/2024
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