Texto original: 12/03/2015 Adaptação, 01/08/2024
Era uma terça-feira comum, daquelas que passam despercebidas, sem grandes acontecimentos ou surpresas. O sol já começava a se esconder, tingindo o céu com tons de laranja e rosa. Camila caminhava de volta para casa, sentindo o cansaço do dia pesar sobre seus ombros, mas algo mais, um peso invisível, a acompanhava há tempos.
O telefone em sua bolsa vibrava constantemente, trazendo mensagens cheias de carinho, palavras doces que aqueciam seu coração. "Estou com saudades", "Você é tudo para mim", "Não sei o que faria sem você". E ela, sabendo do amor por trás de cada frase, sentia o aperto no peito aumentar. Não era ódio, rancor, ou raiva. Era o amor que tornava tudo mais difícil.
Ela se lembrava das vezes em que tentara conversar, explicar que algo estava errado, que a relação, por mais cheia de afeto, a sufocava. Mas como dizer isso sem machucar? Como magoar alguém que a amava tanto? No fundo, Camila sabia que ele não fazia por mal, mas a forma como ele precisava dela a deixava sem espaço, sem ar. A cada palavra de carinho, a corrente ao redor de seu coração parecia apertar mais.
Enquanto caminhava, observou uma planta que crescia no jardim de uma casa próxima. Era bela, com flores de cores vibrantes, mas se espalhava por todo o canteiro, sufocando outras plantas ao seu redor. "Nem toda beleza é saudável", pensou, com um aperto na garganta. As flores eram belas, mas exigiam mais do que o solo podia oferecer, e o resultado era a morte lenta das outras plantas.
Naquele momento, Camila percebeu que seu relacionamento era assim. Não era por falta de amor, mas pelo excesso dele, que a sufocava. Ela amava, sim, mas o amor não deveria ser um fardo a carregar, não deveria exigir o sacrifício de si mesma. E mesmo que ele não fosse uma pessoa má, não era a pessoa certa para ela. Não agora. Talvez nunca fosse.
Quando chegou em casa, sentou-se no sofá, o telefone ainda vibrando em sua bolsa. Ela sabia o que precisava fazer, mas isso não tornava a tarefa menos dolorosa. Precisava se afastar, criar espaço para respirar, para se reencontrar. Porque, afinal, a vida já era difícil o suficiente sem carregar pesos extras, mesmo que esses pesos viessem disfarçados de amor.
Respirou fundo, pegou o telefone e digitou uma mensagem curta, porém sincera. Sabia que doeria, tanto para ela quanto para ele, mas também sabia que era o necessário. "Preciso de um tempo para mim", escreveu, antes de apertar enviar.
O silêncio que seguiu foi ensurdecedor, mas também veio com uma leveza inesperada. Pela primeira vez em muito tempo, sentiu que estava cuidando de si. E isso, pensou, era o maior ato de amor que poderia oferecer a si mesma.
A vida continuava, o sol já se punha no horizonte, e Camila, com o coração mais leve, sabia que, às vezes, se afastar não era desistir, mas se reencontrar. E essa era uma caminhada que ela precisava fazer sozinha. Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 13/08/2024
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