Há momentos na vida em que sentimos a morte, mas não aquela que leva o corpo ao fim, e sim uma morte mais sutil, que desce lenta e friamente sobre a alma. Essa morte, invisível aos olhos alheios, é sentida quando nos debatemos contra o inevitável, quando gastamos nossas forças em busca de algo que desejamos intensamente, mas que, ao final, escapa entre nossos dedos, como areia em um punho fechado.
Não importa quem somos ou o que conquistamos. Todos, em algum instante, nos deparamos com essa experiência, e ela nos transforma. Não uma mudança superficial, mas uma alteração profunda, visceral, que nos marca para sempre. Quando enfrentamos essa perda, esse desapontamento que corrói por dentro, algo em nós morre, e o que sobrevive não é mais o mesmo.
Depois disso, começamos a nos contentar com menos. É como uma fera selvagem que, domada, esquece o instinto de caçar, aceitando a ração que lhe oferecem. Aquela perseguição que antes nos fazia pulsar com vida, aquele desejo ardente que movia nossos passos, torna-se apenas uma lembrança distante, um eco de uma emoção que já não nos pertence.
Com o tempo, nossas ambições mudam. Passamos a buscar não mais o que brilha, mas o que está ao alcance das mãos. As aspirações grandiosas são substituídas por realizações modestas, e a beleza que outrora nos elevava é trocada pela simplicidade cotidiana, que não exige esforço ou paixão.
E assim seguimos, fingindo ter alcançado o que um dia tanto almejamos. Mas, no silêncio das noites insones, não podemos evitar a contemplação do vazio. Olhamos para dentro e perguntamos: onde estão os sonhos que um dia arderam em nós? Aqueles sonhos, tão intensos e vívidos, se desvaneceram com o tempo, deixando apenas uma sombra, um fantasma que vaga pelas sombras da nossa consciência, nos lembrando do que perdemos, ou do que nunca conseguimos alcançar.
Esses fantasmas não são apenas memórias, mas partes de nós mesmos que ficaram pelo caminho. São eles que, de alguma forma, nos assombram, lembrando-nos que, apesar de tudo, ainda estamos aqui, sobrevivendo a cada uma das mortes que a vida nos impõe. Monet Carmo e Crônica escrita em 2001 e readaptada no sentimento do agora
Enviado por Monet Carmo em 12/08/2024
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