... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

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Apesar de ser uma pessoa bastante privilegiada em vários sentidos, em especial com a sorte de ter um amor tranquilo e estável, infelizmente não tenho lá a melhor saúde do mundo.

Em parte por questões alheias a minha escolha, em parte resultado de alguns maus hábitos, em especial o sedentarismo.

Sei que muitos apanharam mais que eu na vida. Nunca passei fome, vivenciei pouca violência em minha vida. Mas tive já meus períodos prolongados de dor, tanto física quanto psíquica. Atualmente me encontro em um deles, numa combinação de dois problemas médicos simultâneos.

E se algo que esta experiência pessoal me mostrou, e de forma coerente com minhas leituras e pensamentos, é que o sofrimento não é uma força construtiva. Mas a sociedade valoriza o sofrimento.

Demorei muito tempo para entender a crítica de Nietzsche para a compaixão cristã. Hoje percebo que sim, nossa cultura cristã valoriza o sofrimento, considera que as dores da vida nos torna melhores, ou até mesmo nos purifica. 

A busca de encontrar no sofrimento alguma lição é claro que é positiva, mas nunca devemos confundir que o sofrimento é positivo. É parte integral da vida, que devemos aprender a lidar. Mas nunca valorizar.

Quando valorizamos a dor, e nos entregamos a empatia, acabamos por multiplicar a dor. Devemos, por empatia, repudiar a dor. Muito mais importante que nos solidarizarmos é tentar ser uma força de transformação, de superação. 

A dor não é um bom professor, de forma alguma. E por acharmos que a dor é a melhor forma de ensinar que insistimos em castigos físicos ou psicológicos como instrumentos didáticos. Não são, são instrumentos traumáticos. 

E em ambientes onde o sofrimento prospera, o pior do ser humano se revela. A solidariedade e a cooperação é mais comum e presente quando há tranquilidade e paz. No meio da guerra, da fome, da tragédia, o que temos é o homem se transformando em algo selvagem e feio. Quando a farinha é pouca, meu pirão primeiro. Estamos, em geral, a poucas refeições da barbárie. 

Eu realmente repudio não apenas o sofrimento, mas no que ele nos transforma. Não é nada simples trabalhar a resiliência para superarmos estes momentos. 

Mas pior ainda é ver quantos enxergar na dor um mérito, quantos veem na vítima um herói, na dor uma virtude. Isto é de uma perversão estranha. É uma negação da vida, uma pulsão pela morte.

 

 

 

Anye Junior, 45+. Segurança financeira ok! família tradicional e com historia marcante na sociedade e consciente que a dor e tristeza e mazelas do mundo é algo mais acessível que a educação.
Enviado por Monet Carmo em 13/07/2022
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