AS PARTES PERDIDAS
Havia um homem que não estava feliz com sua vida. Sentia-se muito triste e vazio. Na hora de dormir, fez uma oração a Deus pedindo uma orientação sobre o que fazer para se tornar uma pessoa mais feliz, mais integral, sem esse vazio que sentia.
Apagou a luz, deitou-se, e assim que fechou os olhos, ouviu uma voz dizendo:
“Para preencher esse vazio, recupere as partes perdidas de sua alma”.
O homem não compreendeu a mensagem e julgou se tratar de um capricho de sua imaginação.
O homem dormiu e começou a sonhar… Sonhou que estava num campo esverdeado muito extenso, onde caminhava livremente. De repente, viu uma luz saindo de dentro dele. O homem sentiu que essa luz era sua própria essência, sua energia mais profunda, sua vida ou sua centelha cósmica… em outras palavras, era seu próprio ser. Essa luz se dividiu em miríades de luzes e foi pousando em diversos lugares diferentes daquele imenso campo.
Nesse momento, o homem sentiu uma imenso vazio, que entendeu ser a ausência de si mesmo, e saiu correndo pelo campo em busca daquela luz. Viu então sua mãe passando pelo caminho portando um pedacinho da sua luz. Lembrou-se do quanto sentia saudade de sua mãe já falecida e percebeu que uma parte de seu ser “morreu” quando ela partiu. Depois viu sua ex-esposa, que o deixou por outro homem, e percebeu também um pedacinho de sua luz com ela. Nesse momento, o homem sentiu o quanto sua ex-esposa lhe fazia falta e o término do casamento havia deixado um buraco em seu peito. O homem então foi se deparando com várias cenas diferentes: com as humilhações que sofreu na escola, que também haviam tirado um pouco de sua alegria de viver. Essas crianças da escola também estavam com uma partezinha de sua luz. O chefe que o demitiu injustamente também estava portando um fragmento da sua luz. As meninas que o haviam rejeitado igualmente estavam de posse de uma pequena porção de sua luz.
Depois disso, o homem começou a ver que sua luz estava distribuída por milhares de lugares e situações diferentes: traumas de infância, apegos, prazeres quiméricos, saudades, desejos não satisfeitos, sua fixação na comida, na cerveja, as horas que perdia com jogos e situações inúteis, suas raivas, seus medos, suas mágoas, suas carências, tudo isso estava roubando dele a luz que antes residia em seu interior. O homem sentiu, assustado, que muitas partes de si mesmo estavam distribuídas em milhares de pessoas, lugares, situações e sentimentos diferentes, e esse era o motivo de todo o vazio que sentia há muitos anos. Todos os sonhos não realizados, os ressentimentos, as carências, as rejeições das pessoas, as pessoas que ele amava, mas que se foram, tudo isso havia ficado com uma pequena parte do seu ser. Não que essas coisas tenham lhe roubado a si mesmo, mas ele mesmo havia deixado um pouco de sua luz perdida pelo caminho, no seu passado, em todos os seus apegos, traumas e faltas. Seu ser estava fragmentados em muitas partes, que haviam ficado pelo caminho em decepções, apegos, sofrimentos e ausências.
O homem sentiu que precisava reverter essa situação, e para isso o único caminho era recuperar todas as “partes perdidas” do seu próprio ser. Ele precisava agora retomar a luz de si mesmo que ficara perdida pelo caminho, presa em pessoas, situações e sentimentos. Fez uma viagem de volta, e foi pegando de volta todos os pedaços do seu interior que ficaram distribuídos pelas areias do tempo. Foi resgatando a si mesmo em todas essas miragens passadas, reavendo as frações perdidas do seu ser em diversas partes do mundo transitório e ilusório.
Quando conseguiu reassumir todas as partes de si mesmo e traze-las de volta para si, o vazio em seu interior sumiu. O homem passou a se sentir maravilhosamente preenchido e livre. Sentiu um calor divino em seu peito, que o fazia sentir-se mais íntegro. Ele não estava mais preso em milhares de pessoas, situações e sentimentos. Ele retomara a si mesmo em pedaços do exterior e devolveu todas as partes perdidas ao seu interior. Estava agora integral e pleno de si mesmo.
Quando acordou, sentiu um bem estar maravilhoso. Decidiu que nunca mais iria se extraviar nas ilusões do caminho e jamais permitiria que partes de si mesmo ficassem perdidas pelos recantos do mundo.
Reflexão: Onde estão as partes perdidas de ti mesmo? Recupere-as, pois só assim serás feliz.
Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 24/10/2018
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