O SACRIFÍCIO PELO OUTRO (visão espirita)
Algumas pessoas insistem em conservar, muitas vezes por motivos religiosos, a noção equivocada de que possuem um “karma” com o ente querido que lhe causa problemas, e por essa razão devem cumprir esse karma passivamente e aceitar os mandos e desmandos do parente ou cônjuge. Essa ideia é comum a alguns espíritas e espiritualistas que acreditam ter uma “missão” com o outro, e por isso acabam se submetendo a condições degradantes em nome de um sacrifício de si mesmos em prol do outro. Esse juízo traz em seu bojo uma idealização de que é necessário amargar o sofrimento, padecer e até deteriorar-se para tolerar, e talvez tentar, se a pessoa consentir, ajudar o outro. Porém, é certo que ninguém pode ajudar uma pessoa que não deseja ser ajudada. Só se pode amparar alguém, mesmo numa relação de família, quando esta pessoa aspira a uma melhora. Muitas pessoas se iludem de que estão se mantendo numa relação a fim de auxiliar o outro que nos maltrata, para que se modifique e deixe de ser como é. Indivíduos que se submetem a esses sacrifícios podem acreditar que são boas o suficiente para promover alguma mudança no outro, mesmo que ele não queira mudar. Vemos aqui a presença de um sentimento arraigado de orgulho e de desconsideração pelos nossos limites. Não podemos nem devemos forçar ninguém a mudar, isso é, na maioria das vezes, algo inútil e invasivo. Tratar os outros como coitadinhos é um equívoco e pode ter como base um sentimento de superioridade em relação ao outro. Cada pessoa é perfeitamente capaz de superar os dramas e as problemáticas de sua vida. Além disso, quem se presta a ajuda a qualquer custo, pode depois ficar inconscientemente esperando uma recompensa pelo que fez, o que é incompatível com o amor incondicional. Ocorre também de nos colocarmos numa posição de auxílio em relação ao outro para que, assim que seja possível, usarmos o que o outro nos confidenciou contra ele mesmo, e podemos fazer isso de forma consciente ou inconsciente. Usar um segredo revelado do outro, ou mesmo alguma dificuldade patente em seus atos contra ele mesmo, seja para fazer chantagem, ou mesmo para justificar nossos próprios erros é algo lamentável e baixo. Não devemos jamais nos aproveitar da fragilidade dos outros para auferir vantagens e obter algum controle psicológico sobre o outro. Por outro lado, ao invés de ambos superarem as dificuldades e crescerem juntos, pode acontecer da relação se desgastar a tal ponto de todos decaírem juntos, irei à ruína e não conseguirem mais se reerguer sozinhos. Devemos canalizar nossa energia para ajudar as pessoas que desejam auxílio, e não para aquelas que se negam a mudar. Muitas vezes, quando a relação se torna insuportável, sair de casa e deixar que a pessoa se trabalhe sozinha pode ser uma boa opção, e pode ter um impacto positivo na consciência do indivíduo. Ele pode sentir que está ficando sozinho e por isso precisa se modificar. Algumas pessoas só se esforçam em melhorar quando são abandonadas temporariamente pelos seus entes queridos, e são obrigadas a rever suas atitudes. De qualquer forma, nada é por acaso e precisamos sempre tentar identificar qual a nossa parcela de responsabilidade. É também verdade que nossa transformação pessoal pode estimular a mudança daqueles que convivem conosco, mas devemos ter cuidado para não ficar semeando ilusões. O amor incondicional tem o poder de tudo transformar, mas frequentemente as pessoas confundem amor verdadeiro com submissão. Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 10/06/2018
Alterado em 13/06/2018 |