... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

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Havia pequenas provocações de ambas as partes.

Cada um testava como o outro reagiria. Era um jogo, uma troca de impressões, como se as preliminares se desenrolassem diariamente com perguntas, risos, toques, insinuações, meias respostas, tudo para criar dúvidas e expectativas. O desejo dos dois estava mais do que maduro, mas faltava um gesto, uma palavra, uma oportunidade. Ela não queria ser precipitada. E ele, arrogante, queria que ela sugerisse.

E quando seria a hora exata?

A pergunta martelava na cabeça... Não havia mais clichês em discussão. Estava estabelecido que ela não era “fácil” e que ele sumiria após a primeira noite.

Então quando seria? Aqueles joguinhos poderiam perder o sentido. Os dois poderiam perder o timing.

E a oportunidade chegou, ela chegou em casa... Escolheu um vestido simples, porém, insinuante que deixava marcada seu quadril largo e o seio empinado coberto apenas por um casaco, afinal, ela nunca gostou de chamar muita atenção... Mais chamaria à dele, e bingo! Ele entendeu a presença dela ali. No final da noite ele tomou coragem e seguiu pra casa dela com a certeza que ele a teria por inteira...

Ela pôs a mão na nuca dele e puxou com força exata seus cabelos, e tomou-lhe os lábios enquando ele ainda com pedaços de queijo na boca que a impedia de beija-lo, ele meio nervoso talvez por não saber o que fazer no primeiro momento com a boca o encheu de queijo... Mais ela não se importava, como não se importou. E essa foi a senha.

Ele sabia que a noite poderia ser ótima, mas primeiro precisava se acalmar e deixar que a emoção tomasse o comando. Muitos e muitos beijos se seguiram, risos contidos e soltos, gemidos baixos e altos,  abraços onde se confundiam os batimentos do coração de cada um, as mãos percorriam todos os espaços que antes eram evitados, as pernas encostadas e por vezes entrelaçadas. Agora era ele que puxava lentamente, mas com firmeza, os cabelos dela, que tanto gostava.

Ele perguntou em um tom sério:

— Por que não fizemos isso antes? Por que eu?
Ela demorou para encontrar uma resposta e até achou bom que ele não pudesse ver sua própria dúvida.

Depois de uns dois minutos, ela se arriscou:
— Fazemos isso desde que nos conhecemos, mas só agora nos demos conta que toda a expectativa criada, não foi ilusória ou decepcionante.

E mais e mais beijos, mais e mais volúpia, explosão de tesão, de desejos, de sorrisos em meio aos espasmos, gozo, tremores, palavras vadias, sabores, e de repente naquele momento, dividiam a certeza de que, por um breve tempo e poucas horas aproveitariam um ao outro, afinal, eram perfeitos naquele agora.

 
Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 24/12/2016
Alterado em 24/12/2016


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