... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

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Isso me fez lembrar de um bar que eu ia com os amigos no começo da faculdade, como era estudante costumava frequentá-lo porque vendia a cerveja mais barata da região. Uma vez eu escutei de um freguês antigo deste bar que o dono procurava manter à venda algumas cervejas de baixo preço mas, que em períodos de “vacas gordas” do país, ele passava a vender algumas cervejas mais caras e reconhecidamente de melhor qualidade. O objetivo era não perder a clientela, pois nesses momentos a freguesia passava a frequentar outros bares que ofereciam cervejas melhores. Quando as “vacas magras” voltavam a aparecer, ele deixava de comprar as cervejas mais caras e vendia apenas as mais baratas. Assim, ele mantinha uma certa margem de lucro em ambos os momentos.
 
Esta lógica pode funcionar bem para a gestão de um bar, ou de uma padaria, ou de uma família, ou até de uma empresa, todavia para a gestão estatal esta lógica de cortar gastos para manter uma rentabilidade não serve. A verdade é que os fins públicos são diferentes dos privados. No primeiro a preocupação é com a economia como um todo (emprego, renda, inflação, investimento e etc.), no segundo é sustentar ou ampliar os lucros. Para objetivos pedagógicos vamos partir de um orçamento público “equilibrado”, cujas receitas e despesas se igualam. No período de “vacas magras” é normal que a receita caia e as despesas passem superá-la. Isto acontece porque em períodos de crise a arrecadação do Estado se arrasta para baixo, pois há menor consumo, menor renda e, por consequência, menos impostos são arrecadados. Assim, se adotarmos a lógica privada neste caso e reduzirmos as despesas, procurando “equilibrar” o orçamento, teremos uma nova queda das receitas. Se tentarmos repetir a dose, teremos novamente uma nova queda. Em 2014, o “prejuízo” no Brasil era de R$ 32,5 bilhões. Em 2015, com as políticas de corte no orçamento este número foi para R$ 111,2 bilhões. Isto sem incluir os gastos financeiros (juros da dívida), o que ampliaria ainda mais este número. Este ano, o governo Temer colocou uma meta bem folgada de R$ 170,5 bilhões para garantir que irá cumpri-la.
 
Ao cortar os gastos, o governo deixa de arrecadar e a diferença entre despesa e receita cresce. Tanto os servidores públicos, como as empresas que deixaram de prestar serviços aos entes estatais, deixam também de consumir e pagar impostos. Desta forma, ao cortar gastos as receitas caem junto, muitas vezes tanto quanto as despesas, pois o efeito sobre o consumo pode se generalizar para toda economia, aprofundando ainda mais a crise.
 
De maneira geral, a fim de evitar o agravamento da crise, recomenda-se financiar o prejuízo com empréstimos, sustentando a demanda até que se limpe o terreno para um novo período de “vacas gordas”. Neste novo período, as receitas superam as despesas e é possível quitar os empréstimos do período anterior. Todavia, há de se recordar que o Brasil não é para amadores e que não é bem assim que a banda toca.
 
Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 21/09/2016
Alterado em 21/09/2016


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