... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

Textos


"SENHOR, EU NÃO SOU DIGNO DE QUE ENTREIS EM MINHA MORADA…"


Outro dia, uma crismanda me pediu para escrever algo sobre esta resposta, que se dá em toda Missa quando o padre diz: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” e a assembléia responde: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo”.

A resposta fundamenta-se na passagem do Evangelho (Mt.8,5-11), em que um centurião foi encontrar Jesus e disse-lhe: “Senhor, tenho em casa um criado com paralisia, que está com muitas dores”. Jesus disse-lhe: “Eu vou lá curá-lo”. O centurião respondeu: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa, mas dizei uma só palavra e meu servo ficará curado”. Então Jesus disse: “Vai e faça-se como crês”. Nessa mesma hora, o criado ficou curado.

Estas palavras nós a repetimos toda vez que da Missa participamos. Interessante fazer uma reflexão paralelamente à visita de Jesus na casa de Zaqueu (Lc. 19,1-10) –“Zaqueu, desce depressa, pois hoje devo ficar em tua casa”. E no final do encontro, da hospedagem e da acolhida de Jesus, houve a concretização de sua conversão com os propósitos de mudança e restituição dos bens defraudados, bem como a partilha da metade de seus outros bens e assim Zaqueu pode escutar a mais bela notícia da própria boca de Jesus: “Hoje a salvação entrou nesta casa, porque você também é um filho de Abraão! Com efeito, O Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”.

“Desce depressa” é o convite de Jesus. Ele visitou a casa de um centurião, de um chefe de cobrador de impostos. Casas não muito recomendadas, a ponto de arrancar murmurações e despertar incompreensões. Mas o agir de Deus ultrapassa todas as medidas, sobretudo as medidas mesquinhas de nossos julgamentos, conceitos e preconceitos. A misericórdia divina rompe os limites de nossa visão,  faz novas todas as coisas e todas as pessoas. Ela é para ser acolhida, experimentada, jamais aprisionada, sobretudo em nossas mãos que, por vezes, se fecham; não cabe em nosso coração, que por vezes, se apequena; não cabe em nossa mente, porque é limitada.

        “Graças e louvores se dêem a todo momento,
             ao santíssimo e diviníssimo Sacramento…” 


                           *******************

Merecemos receber Jesus em nós? Em nosso coração? Somos dignos de acolhê-lo em vasos de argila que somos? Somos a perfeição em pessoa? Somos melhores do que os outros? Já somos a santidade consumada, sacramentada para sempre? Já estamos no auge da conversão concretizada e irrevogável? Estas questões e outras tantas cabem muito bem aqui.. Não merecemos recebê-Lo, Senhor. Mas sois infinitamente bom, misericordioso, cheio de amor por nós. Vós que tendes poder sobre tudo e sobre todos. Vós que sois infinitamente superior à nossa miserável condição humana, diga apenas uma palavra e seremos salvos. Só Vós tendes Palavras de vida eterna. Só vos podeis romper nossa surdez. Só vós podeis restituir nossa visão, para que vejamos com os olhos de Deus. Só vós podeis adentrar o mais profundo de nós, em nossa intimidade, em nosso coração. Só vós podeis, com uma palavra, uma palavra apenas, nos purificar, nos possibilitar a mais bela acolhida, a acolhida de vós, no Pão da Eucaristia, O Corpo do Senhor.
Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 07/09/2010
Alterado em 09/03/2011


Comentários

Tela de Claude Monet
Site do Escritor criado por Recanto das Letras