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"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

Meu Diário
29/06/2025 15h54
Quando a liderança decide descer, para o GEMBA

Tem coisa que a gente só entende quando vê com os próprios olhos. E mais ainda: quando sente com os próprios pés.

Fazer um GEMBA não é bater ponto no campo pra dizer que participou. É escolher descer. Escolher escutar. Escolher olhar pra realidade como ela é — e não como os relatórios tentam emoldurar.

Descer uma mina subterrânea pra acompanhar uma rotina operacional, que pra muita gente parece “só mais um serviço de apoio”, mostra uma verdade incômoda: tem gente que cuida da estrutura de conforto dos outros, sem ter nem estrutura mínima pra fazer o seu trabalho com segurança.

A operação envolvia um colaborador sozinho, num veículo leve, responsável por higienizar e abastecer as câmaras de hidratação. Ele dirige, opera rádio, interpreta mensagens em tempo real, desce rampas de tráfego misto com jumbos, robôs, caminhões… tudo junto. E nem sempre o que se fala no rádio é o que ele encontra na frente. A via é uma só. O risco é coletivo, mas a responsabilidade cai em cima de quem tá no trecho.

Durante a descida, a gente viu VL circulando com farol alto, outros com farol traseiro aéreo que cega o condutor de trás. Tinha cano mal sinalizado, degrau estreito, batente de concreto sem pintura. Tinha câmera de recuperação com lixo acumulado, bomba d’água exposta atrás da parede, condensadora coberta de poeira grossa. Tinha escada que exige que o pé fique de lado pra descer. Tinha área de evacuação obstruída por caixa, pallet e resto de obra. E mesmo assim... o serviço acontece.

A pergunta que fica é: até quando a gente vai chamar isso de normal?

Não precisa criar um grande projeto pra resolver tudo de uma vez. Mas precisa, sim, criar coragem pra reconhecer que há riscos invisíveis que só aparecem quando alguém decide descer com o olhar certo.

O GEMBA não é uma inspeção. É um gesto.

É dizer com o corpo que quem está no campo importa. É parar de mandar os outros melhorarem o que a gente nunca teve coragem de ver de perto. É entender que o conforto, a saúde e a segurança de quem opera não são detalhes. São parte da produtividade. São parte da dignidade.

Não tem fórmula, não tem glamour. Tem o que precisa ser feito.

Descer é isso: se comprometer com a verdade.


Publicado por Monet Carmo em 29/06/2025 às 15h54
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