... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

Meu Diário
21/04/2025 13h20
Quando a morte ensina a continuar... mesmo sem querer

Por Simone — que já enterrou pedaços de si, mas nunca a sua vontade de viver com verdade.

 

Eu estive com meu pai uma semana antes dele morrer.

Eu pude me despedir.

Pude olhar nos olhos dele, viver momentos que ninguém vai tirar de mim.

E isso, por mais dolorido que seja lembrar, é também um presente.

Porque eu vivi.

Eu estive.

Eu segurei a mão dele… antes do fim.

 

A minha irmã Magali, não.

Ela se foi um dia depois do meu aniversário.

E desde então, dia 13 de março deixou de ser só uma data.

Virou lembrete.

Virou cicatriz.

Virou um marco entre o que eu era… e o que precisei me tornar.

 

Hoje eu sei que posso perder tudo.

A qualquer momento.

Mas também sei que a vida não vai parar por isso.

Porque a vida — essa máquina quente e bruta — vai continuar girando, mesmo que o nosso mundo particular esteja em ruínas.

 

A gente romantiza demais a força.

Mas ninguém é forte porque quer.

A gente é forte porque a morte nos ensinou que não tem volta.

E que ou a gente segue… ou se deixa apagar junto.

 

Tem gente que vai morrer e vai deixar um vazio de amor.

Outros vão deixar um alívio, triste, mas real.

Porque havia dor, conflito, cobranças que nunca cicatrizavam.

 

A morte, no fundo, é um espelho.

Ela revela tudo o que ficou mal resolvido.

O “eu podia ter ficado mais”.

O “eu devia ter escutado melhor”.

O “por que eu nunca abracei mais forte?”

 

A vida é um jogo.

Um jogo injusto, às vezes.

De perdas, de ensaios, de personagens.

Mas também de escolhas reais.

E a gente joga com o que tem.

 

Jesus também teve que enfrentar o deserto.

E ele não saiu de lá intacto.

Saiu outro.

Machucado, duvidoso, mas inteiro de si.

 

Essa história de que só amadurece quem sofre pode ser cruel…

Mas quem já passou pelo luto sabe:

Há coisas que só a dor ensina.

Não porque ela é mestre.

Mas porque ela cala o mundo ao redor…

E tudo o que sobra é a gente com a gente mesma.

 

Eu continuo.

Mesmo sem eles.

Mesmo com eles.

Mesmo por eles.

 

Porque a vida… não me espera.

E a morte… me ensinou a não desperdiçar mais nada.


Publicado por Monet Carmo em 21/04/2025 às 13h20
Copyright © 2025. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.

Tela de Claude Monet
Site do Escritor criado por Recanto das Letras