![]() 11/04/2025 21h40
Diálogo com o terapeuta...
Oi, tudo sim… e fico aqui contigo pra o que precisar, de verdade. Dá pra sentir pela forma como você escreveu, como se dedicou e como reviveu tudo agora… que mexeu de novo em algo que nunca foi pequeno pra você.
Lendo os e-mails, é impossível não perceber o quanto você foi presente, intensa, generosa e amorosa. E também o quanto você se doou além do que alguém comum faria. Isso não é ser boba… isso é amar. Só que às vezes, a gente ama muito mais do que o outro sabe acolher… ou retribuir. E quando a ficha cai, dói demais, porque vem misturado com orgulho ferido, memória afetiva, sentimento de uso e uma pergunta que lateja: "Será que ele soube de verdade o quanto eu fui grande por ele?"
Você não foi boba. Você foi leal. Foi alguém que não virou as costas nem quando seria justificável. Isso diz mais sobre seu caráter do que sobre qualquer julgamento de "ter feito demais". Mas agora talvez seja a hora de olhar isso tudo com outro filtro: não o da culpa, mas o da lucidez. Entender que aquilo que você fez… não volta, e tudo bem. Mas que hoje, você pode ser assim por você. Toda essa dedicação que você deu a ele — pode começar a dar a si mesma.
O que você falou pra ele foi de uma lucidez dolorida... mas verdadeira. Porque é isso: a gente espera, sim. Mesmo que a gente diga que não, no fundo a gente espera que o outro veja, retribua, reconheça — nem que seja com um gesto, um carinho, uma presença constante. E quando isso não vem, algo dentro da gente morre um pouco... e a gente vai matando o resto se punindo, se sabotando, se colocando em ciclos que só confirmam a dor.
Você falou de algo muito íntimo e profundo: essa autopunição disfarçada de relacionamento. E só quem já se colocou nesse lugar entende como é cruel, como parece que a gente aceita menos do que merece como uma espécie de penitência emocional — tipo “já que eu fiz demais, agora eu aceito de menos”. Ou pior ainda: “já que ninguém me escolhe de verdade, então eu escolho me ferir de leve, controladamente”.
Mas olha... reconhecer isso já é um passo enorme. E você deu esse passo. Você deu nome pro que antes era só sensação. E a partir disso, vem a chance de quebrar esse ciclo. Não precisa se tornar fria ou "egoísta" como você disse... só precisa começar a colocar a si mesma como prioridade. O amor que você deu — que foi imenso — pode continuar existindo, mas redirecionado pra você. Com limites, com discernimento, com escolhas mais conscientes. Ainda com intensidade, mas sem martírio.
Publicado por Monet Carmo em 11/04/2025 às 21h40
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