30/11/2024 20h05
Noite de Reverberações
A cidade parecia respirar desejo à noite, como se cada rua, cada esquina, conspirasse para que nossos corpos se encontrassem. Ele entrou no quarto com a calma de quem sabe o que faz, mas com os olhos cheios de fome. Não havia palavras, apenas um silêncio tenso e pulsante, cortado pelo som do zíper da mala que ele jogou no canto, sem cerimônia. Eu o observei de longe, encostado na porta, fingindo que tinha controle. Ele sabia que não tinha. E eu também. Seus passos eram firmes, mas carregavam um peso quase invisível, o peso de anos de distância, de encontros evitados e de palavras não ditas. Quando finalmente parou à minha frente, senti o calor que emanava do corpo dele, como uma promessa. A primeira coisa que ele tocou não foi minha pele, mas meu cabelo. Seus dedos deslizaram pelas mechas com uma lentidão calculada, enquanto seus olhos percorriam cada detalhe do meu rosto. Era um toque de posse, mas também de descoberta, como se ele quisesse memorizar o que já conhecia. E então, sem aviso, ele me deixou para perto, suas mãos firmes na minha cintura, colando nossos corpos como se o tempo perdido fosse um fogo que só pudesse ser apagado ali, naquele instante. Seu beijo veio com urgência, uma dança desordenada entre lábios e dentes, como se nossas bocas tentassem devorar o espaço que restava entre nós.
A cama parecia distante, mas foi como se nossos corpos soubessem o caminho sozinhos. Quando ele me deitou, o mundo se dissolveu. Não havia mais passado, não havia mais amanhã. Só o presente, marcado pelo som das respirações ofegantes e pelo toque dos nossos corpos, cada vez mais desesperados. Sua boca explorava a minha pele, como se cada centímetro fosse um território desconhecido. Suas mãos não pediam permissão; apenas tomamos o que queria. E eu, entregue, fiz o mesmo. O desejo entre nós era cru, desinibido, sem espaço para pudores ou hesitações.
Quando nossos olhares se encontraram no ápice do momento, algo se cortejou. Não era apenas o prazer físico. Era como se estivéssemos desnudando não só os corpos, mas também as almas. E foi nesse instante que percebi: ele não era só um amante. Era um caos que eu nunca conseguiria domar, mas que, por uma noite, decidisse amar. Naquela noite, amei. Sem limites, sem barreiras. Até que o sol, traiçoeiro, veio nos lembrar que tudo tem um fim. Publicado por Monet Carmo em 30/11/2024 às 20h05
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