... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

Meu Diário
12/03/2017 11h58
Amar a si mesmo

Amar a si mesmo

E o medo que eu senti não teria sido afinal um medo antigo, o medo da rejeição, da desaprovação, de ser alguém impossível de amar, medo que bem podia ser mais antigo do que a minha própria lembrança explícita?

Nessa altura do livro parei e fechei a página. Olhei em.volta furtivamente, como se quisesse me esconder de alguém. Como assim? Como ela sabia disso? Como pôde ler minha alma?

Siri Hustved, a escritora sensível e inteligente acabara de me desnudar completamente.

E eu nem sabia o que ela sabia.

Amar e ser amado, motivo universal de querer estar vivo. O resto vem depois e se torna apenas consequência.

Da primeira hora do dia até o sono fechar nossos olhos, tudo o que fazemos (e sofremos) tem esse único motor.

O corte de cabelo, o cardápio novo para o jantar, o sorriso tímido na festa do trabalho, a foto no Instagram.

A rebeldia adolescente, a tatuagem no meio da perna, a calça dois números acima. Pertencer ao grupo, ser aceito, amado.

Afinal, que sentimento é esse?

Porque precisamos do outro para saber quem somos?

Acabo de assistir o filme Elis, biografia da célebre cantora que conquistou o Brasil nos anos setenta. Voz poderosa e carisma arrasador, Elis Regina era garra e alegria em profusão. Imagino quantas meninas recém nascidas recebem seu nome em homenagem, na esperança de herdar seus predicados.

Poderosa e vencedora para o mundo, não conseguiu lidar com a imagem que construiu. Morreu de overdose, muito jovem.

Freud eliminou todas as máscaras ao abrir a caixa de pandora da mente humana. Inconsciente no controle, passamos a vida buscando o amor incondicional.

Para os que fazem terapia boas chances de aprender a lidar com isso.

No meu caso, amor e perdão,  receita básica de ingredientes caros.

Comece separando os ingredientes secos como lembranças de bons momentos, pequenas e grandes conquistas, gestos de carinho e gratidão recebidos ao longo da vida. Na sequência, adicione os líquidos tais como músicas especiais e sabores da infância como o cheiro do pão fresco no café da manhã.

Feche os olhos por alguns minutos e, misturando os ingredientes, pense como foi o caminho até aqui.

Agora acrescente a cereja no bolo,

Perdoe-se.

Deixe sua mente descansar por alguns minutos, abra os olhos e sinta o gosto desta iguaria tão rara.

Colocar-se em primeiro lugar não é egoísmo, é um ato de amor ao próximo.

Não podemos amar sem ser amado e ninguém pode te superar nesta tarefa.

Afinal, depois de provar desta iguaria você poderá recomendar e dividir com os que tiverem a sorte de estar ao seu lado neste banquete.

A vida e a receita são suas, a festa é de todos nós.


Publicado por Monet Carmo em 12/03/2017 às 11h58

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