... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

Textos


Um barulho me incomoda o mesmo que sempre me acorda.
Um grito... Um chamado... Um gemido... 
Abro os olhos vejo escuridão do quarto, mas o barulho persiste. E eu não desisto de procurar. Olho tudo ao redor sem nada achar, escuto uma voz... Alguém me chamar; 
Algo me assusta, o medo invade, mas a curiosidade e a insistência me fazem persistir em desvendar tal mistério...
Acendo um incenso de cravo ponho-me a meditar, relaxando o corpo e num profundo êxtase entro em um mundo que me faz recordar, de uma vida sofrida e vivida, há tempos em algum lugar do passado adormecido... 
Presumo conhecer o lugar, mas não exatamente o que ora vim achar. Vejo-me cercada por pessoas que cantam, dançam felizes. Muitos vinhos, frutas, sorrisos... Um cheiro de orgia que invade as pessoas; olho tudo admirada e tento entender e ao mesmo tempo reconhecer que época é esta que me trouxe a reviver...
- O barulho!!
O barulho me faz lembrar o motivo que me fez vir; entender e achar a tal angustia que me invade a alma quando em noites de lua vem me tirar o sono. Ouço mas alto e nítido um choro... Um lamento, uma ladainha em coro e então me sinto flutuar sobre as pessoas sobre o lugar indo à direção de uma porta de madeira maciça e grossa trabalhada em desenhos de anjos... Com um toque a porta se abre e vejo alguém que amo (sei que amo, devido à sensação de angustia que me invade o frio que toma conta do corpo, a alma se agita na tentativa de não acreditar no que está vendo...) em uma cama a gemer de dor, corpo esfolado, pernas quebradas, ossos expostos, feridas abertas... Sangue a escorrer!
Pergunto ao desconhecido que me faz angustiar pela familiaridade de seus traços;
- porque chora? Qual o motivo de tanta dor? Qual a causa dos ferimentos terríveis que te fazes gemer tão alto... Porque chamas meu nome? Tu me conheces?? De onde??
Para minha surpresa, tal cavalheiro diz com dificuldade, mas com a voz firme, imponente, sedutoramente pausada:
- não sei quem tu és minha bela jovem, a dor é imensa sim... Mas a maior de todas é a dor que machuca a alma... Sei porque sofro, sei porque aos poucos morro... Mais isso não me impede de esperar a hora de enfim, meu corpo descansar e voltar a terra que me acolherá junto ao corpo de minha amada que tanto vi fecundar crescendo lindas flores!

Enquanto falava, olhava admiradamente o corpo deitado no leito semi-nu, mesmo com todos as feridas e mazelas percebia que era belo corpo de homem... Corpo que conhecia cada detalhe, mas que a memória falhava quando estava próxima a lembrar sobre tão belo cavalheiro que sofria n'alma a dor de alguma desgraça e que ainda esperava a morte sem ao menos teme-la, pelo simples desejo de se juntar a terra fértil com a do seu amor que já deveria ter virado um jardim cheio de flor...
Olhando ainda com admiração nos olhos, e vendo o brilho daqueles olhos de amêndoas, que emanava e envolvia-me na certeza que já tivera sido possuída por aquele ser que na minha frente morria aos poucos... 
Uma súbita necessidade me tomou o ser... Em descobrir por qual motivo apenas eu ouvia seu lamento e gemido, porque as pessoas que no salão de festa regado a orgias e felicidades não se importava com a dor e o sofrimento que vem de ti!?
De repente ele me olha nos olhos... Os mesmo brilhantes olhos e com a voz firme me diz:
- talvez tua alma conheça a minha de outras vidas, já que tu escutas minha alma chorar, te acordar nas noites frias, onde a dor é maior, devido o frio que toma algumas partes expostas... Talvez estejamos ligados, talvez tua alma reconhecesses a minha de algum passado vivido... Linda jovem confessar-te-ei que teu semblante também é conhecido, teu sorriso é como balsamo diante das dores que ora sinto!
As palavras que ele dizia entravam em mim como confirmação antes mesmo que terminasse a frase de seu pensar, parece que sabia exatamente o que ele iria dizer-me e então pedir que contasse um pouco de sua historia, mesmo já imaginando o que me diria, mas queria ouvi-lo... Foi então que ele começou a falar sobre uma mulher cigana e traiçoeira, mais que lhe dou todo o amor verdadeiro a um homem que se achou merecedor...


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Devido a fortes dores de cabeça a sessão de TVP foi interrompida!

Sessão realizada em 28/04/2006 às 17hs, sob o acompanhamento da Psicóloga e Terapeuta Mª de Fátima Varella.. 

...........................................................Continuarei em breve a 2parte!


Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 19/12/2006
Alterado em 31/05/2010


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